sábado, 8 de dezembro de 2012

Realismo Memórias Póstumas de Brás Cubas?

Memórias póstumas de Brás Cubas revela a capacidade impar de Machado de Assis de expor especificidades da formação cultural brasileira de um modo que só os mais atentos leitores são capazes de perceber.

É como se Brás Cubas, personagem-título, fosse a síntese daquilo que era socialmente apreendido pelo autor, sobretudo, em sua convivência com pessoas das classes mais altas.


O romance é narrado em primeira pessoa por um defunto-autor, e não por um autor-defunto como ele faz questão de frisar, com o objetivo de convencer o leitor que o fato de ser uma obra póstuma, torna sua narrativa absolutamente confiável, já que, um morto não necessita distorcer os fatos. Mas, um burguês brasileiro não é confiável nem depois de morto.


Isso fica evidente em algumas partes da narrativa. Como, por exemplo, no episódio do seu enterro, onde ele procura mascarar sua insignificância justificando que o fato de haver poucas pessoas no seu cortejo era em decorrência de muitos não terem sido avisados e/ou por causa do mau tempo.


Basicamente, o livro relata a história de um sujeito que não conseguiu fazer realmente nada de significativo na vida. Contudo, não é a vida insípida da personagem principal que torna o romance fascinante, mas o modo como essa história é contada.

  O autor usa a ironia como principal recurso para trazer à tona padrões de comportamento característicos da sociedade brasileira, especialmente, da elite dominante que queria se mostrar moderna, adotando, no discurso, idéias e postura européias, mas defendendo, na prática, a manutenção de um sistema retrógrado.
Assim, as relações de Cubas com outras personagens revelam dissimulação, jogo de interesses, um desejo sempre presente de se dar bem, ainda que lançando mão de estratagemas nada éticos.

Brás Cubas é o típico burguês brasileiro. Se na obra machadiana, de modo geral, percebemos uma visão do homem, no sentido universal, destituída de otimismo, em Memórias póstumas é como se ele tivesse nos dizendo que, se esse homem fosse um burguês brasileiro, poderia ser ainda pior.


O cinismo com o qual o personagem conduz sua vida, e que faz questão de deixar claro na narrativa, evidencia que nada pode afetar profundamente àqueles que não dependem do seu suor para comer, ainda que todos os seus empreendimentos fossem frustrados.

 A mais terrível das tragédias, para a burguesia nacional, seria depender do próprio trabalho para sua sobrevivência.
Daí o protagonista do romance poder afirmar, depois de listar seus fracassos, que “coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto.”

Embora Machado de Assis construa seu personagem considerando um contexto cultural específico, deixa claro que as causas da miséria humana não estão circunscritas a uma cultura ou circunstância histórica.


A miserabilidade é inerente a condição humana, é o que o autor deseja demonstrar em sua última negativa: “não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.


Todavia, parece que a acentuação dos vícios ou das virtudes, que torna a vida mais ou menos miserável, pode depender da estrutura social de cada sociedade.


O livro não aponta caminho algum, a não ser o da aceitação da existência com tudo que isto implica. Se tiveres a sorte de nascer burguês, tanto melhor, antes ser Brás Cubas do que ser Dona Plácida, que sempre teve que trabalhar para comer.


Entretanto, apesar de todo ceticismo que o autor revela por meio da postura do protagonista diante da vida, no modo como ele escreve parece haver uma indicação daquilo que, para ele, pode ser a nossa única forma de salvação: o senso de humor.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Foco Narrativo


A narração é feita em primeira pessoa e postumamente, ou seja, o narrador se autointitula um defunto-autor – um morto que resolveu escrever suas memórias. Assim, temos toda uma vida contada por alguém que não pertence mais ao mundo terrestre. Com esse procedimento, o narrador consegue ficar além de nosso julgamento terreno e, desse modo, pode contar as memórias da forma como melhor lhe convém. Com a narração em primeira pessoa, a história é contada partindo de um relato do narrador-observador e protagonista, que conduz o leitor tendo em vista sua visão de mundo, seus sentimentos e o que pensa da vida. Dessa maneira, as memórias de Brás Cubas nos permitirão ter acesso aos bastidores da sociedade carioca do século XIX. 

Personagens Principais Memórias Póstumas de Brás Cubas

BRÁS CUBAS – filho abastado da família Cubas, é o narrador do livro; conta suas memórias, escritas após a morte, e nessa condição é o responsável pela caracterização de todos os demais personagens. 




MARCELA – amor da adolescência de Brás. 
EUGÊNIA – a “flor da moita”, nas palavras de Brás, já que era filha de um casal que ele havia flagrado, quando criança, namorando atrás de uma moita; o protagonista se interessa por ela, mas não se dispõe a levar adiante um romance, porque a garota era coxa. 




NHÃ LO LÓ – última possibilidade de casamento para Brás Cubas, moça simples, que morre de febre amarela aos 19 anos.



VIRGÍLIA – grande amor de Brás Cubas, sobrinha de ministro, e a quem o pai do protagonista via como grande possibilidade de acesso, para o filho, ao mundo da política nacional.



Resumo do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas


O livro é narrado em primeira pessoa, onde o autor é Brás-Cubas, que já morreu e começa a relatar sua autobiografia. Após uma dedicatória nada convencional, ele começa a relatar suas experiências de vida, iniciando pelo seu funeral e pela causa de sua morte, uma pneumonia adquirida enquanto desenvolvia o “emplasto Brás Cubas”, uma invenção que o garantiria a glória entre os homens.
É no capítulo IX que a história realmente começa, com ele falando de sua infância como um menino rico, super mimado e muito levado. Desde pequeno já recebia o apelido de “menino diabo”, por maltratar bastante os seus escravos (e até os filhos deles) quando não era atendido da forma que desejava. Quando completa 17 anos, se apaixona por uma prostituta de luxo chamada Marcela, que lhe custou “quinze meses e onze contos de réis” e que quase levou a família à falência. A fim de esquecer toda essa decepção amorosa, Brás Cubas vai para Coimbra, onde se forma em Direito.
Pouco tempo depois, ele volta ao Rio de Janeiro por conta da morte de sua mãe. Em seguida ele vive um outro grande amor, por Virgília, que é filha de um homem muito importante e influente, o que torna essa relação favorável para o seu pai. Todavia, ela é apaixonada por Lobo Neves, e acaba casando-se com ele. E com isso, a candidatura que o pai de Brás Cubas tanto desejava vai por água abaixo.
À procura de um estilo de vida mais interessante, Brás Cubas torna-se deputado e arruma uma outra namorada, chamada Nhã-Loló, uma garota de 19 anos que acaba morrendo de febre amarela.
No final da história, todos começam a morrer sequencialmente, sobrando apenas o protagonista e seu desejo de alcançar o sucesso. A única forma de chegar onde deseja é através do emplasto Brás Cubas, que seria um remédio  que curaria qualquer doença. Por ironia do destino, enquanto trabalhava nele, ele é pego por uma chuva e acaba contraindo pneumonia e chega a falecer.

Machado de Assis



Nascido em 21 de junho de 1839, na cidade do Rio de Janeiro, Joaquim Maria Machado de Assis foi o escritor visto como o nome mais importante da literatura brasileira. Ele não se limitava apenas a um gênero, escrevendo em praticamente todos eles. Foi uma testemunha da transição entre Império e República no Brasil, o que serviu de inspiração para comentar e relatar grandes eventos políticos e sociais que ocorreram naquela época.
Deixou uma obra bastante extensa, com mais de 600 crônicas, 200 contos, 9 romances e 5 coletâneas de sonetos e poemas. Foi tão importante para a literatura nacional que é considerado o introdutor do Realismo no país, justamente por conta da publicação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.
Faleceu em 29 de setembro de 1908, com 69 anos de idade, devido a uma úlcera cancerosa em sua boca. Atualmente, é lembrado como um dos grandes gênios da história da literatura, ao lado de personalidades como Shakespeare, Dante e Camões.

Filosofia de Vida Memórias Póstumas

Ultima cena, Virgilia diante de Brás Cubas falecendo em silêncio, delirando e apenas uma conclusão, ele não conseguiu ser ministro, ter seu filho, viver um grande amor, ou até mesmo criar o emplasto. Mas com o leve saldo positivo por não ter deixado a sua descendência a miséria.